OPINIÃO - A tarifa de Trump vai ser boa para o Brasil? A resposta é não — principalmente para o agro brasileiro. A nova tarifa de 50% sobre exportações do Brasil para os Estados Unidos, anunciada nesta quarta-feira (9) por Donald Trump, afeta diretamente os principais produtos do agronegócio brasileiro, como café, carne bovina e suco de laranja. E o mais irônico: atinge exatamente o setor que mais apoia Jair Bolsonaro, ex-presidente citado na justificativa da medida.

Como a tarifa de Trump vai impactar o Brasil?


A tarifa de Trump terá um impacto imediato no comércio exterior do Brasil, em especial na balança agroexportadora. O café brasileiro, por exemplo, é o produto mais vendido aos Estados Unidos. Em 2024, foram mais de US$ 2 bilhões em vendas. O Brasil é o maior fornecedor de café para os EUA, com 32% de participação de mercado, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

A carne bovina também está entre os alvos da tarifa de Trump. Apenas entre janeiro e abril de 2025, os EUA importaram 135,8 mil toneladas de carne brasileira, um crescimento de quase 500% em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso ocorreu por conta da alta demanda e baixa oferta de bois nos EUA.

Agora, com a nova tarifa de Trump, o Brasil pode perder competitividade, ver seus produtos encarecidos no mercado americano e sofrer uma redução nas exportações, o que afeta diretamente a economia e os empregos no setor.

Por que bolsonaristas estão comemorando a tarifa de Trump que pode prejudicar o agronegócio no Brasil?


Apesar de o anúncio representar um ataque direto ao agro brasileiro, bolsonaristas comemoraram a medida nas redes sociais, tratando como uma resposta a Lula. Porém, a realidade é que a tarifa de Trump é um “tiro no pé” para o bolsonarismo, já que o agronegócio é a base econômica e eleitoral de Bolsonaro.

A carta enviada por Trump a Lula cita Bolsonaro e acusa o STF de censura e perseguição política. Mas, ao mesmo tempo, impõe uma tarifa pesada que afeta diretamente a exportação de produtos de base bolsonarista, como café, carne, açúcar, etanol e sucos.

Tarifa anunciada por Trump é boa ou ruim para o Brasil?


A resposta direta é: a tarifa de Trump é ruim para o Brasil, especialmente para o agronegócio e para a balança comercial brasileira. Embora o presidente norte-americano alegue que a medida é uma “correção de injustiças”, os dados mostram que os EUA têm superávit com o Brasil: em 2024, foram US$ 200 milhões a mais em exportações americanas para o Brasil do que o contrário.

Além disso, Trump ameaça aumentar ainda mais as tarifas caso o Brasil reaja com retaliações. Essa escalada pode gerar um efeito cascata, prejudicando ainda mais o comércio exterior e criando uma instabilidade econômica desnecessária entre os dois países.

Trump sai em defesa de Bolsonaro ou tenta atacar o B do Brics?

Apesar da base bolsonarista comemorar a medida tarifária como se fosse um gesto de proteção de Trump a Jair Bolsonaro, a verdade é que o ex-presidente norte-americano está mirando outro alvo: o Brics. A nova taxação de 50% às exportações brasileiras ocorre justamente após o Brasil sediar a cúpula do Brics — bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e que tem sido, há anos, criticado por Trump por representar uma alternativa geopolítica à hegemonia dos Estados Unidos. Ao atacar o Brasil, Trump tenta enfraquecer o bloco econômico que ameaça a supremacia comercial e política norte-americana no cenário global.

Portanto, a narrativa de que Trump estaria "defendendo" Bolsonaro ou a liberdade de expressão, ao impor tarifas ao Brasil, é distorcida e ingênua. Trata-se de uma guerra econômica travestida de embate político, onde Bolsonaro serve como peça útil, mas descartável, em um jogo maior. O lema de Trump nunca foi "Bolsonaro first", e sim "America First" — e isso implica sabotar qualquer iniciativa multilateral que não seja liderada pelos Estados Unidos. Nesse contexto, a retaliação ao Brasil se dá não por lealdade a Bolsonaro.

O que dizem os especialistas?


Para analistas de mercado, a tarifa de Trump prejudica a economia brasileira, desestabiliza relações comerciais e atinge diretamente os produtores rurais, especialmente de estados como Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso — todos com forte presença bolsonarista. A medida é vista como populista e punitiva, com foco político mais do que técnico.

A tarifa de Trump atinge diretamente o agronegócio brasileiro, setor que mais apoia Jair Bolsonaro, mas que agora sofre as consequências de alianças políticas frágeis. Enquanto isso, bolsonaristas comemoram, sem perceber que o prejuízo será amargo para seus aliados do campo, mas por interesse estratégico em enfraquecer o Brics e conter a ascensão das economias emergentes.