OPINIÃO - Nos últimos dias, o nome de Vinícius Jr., craque do Real Madrid e ex-jogador do Flamengo, voltou a dominar as redes sociais. O motivo não foi um drible genial, nem um gol decisivo, mas sim rumores de um possível romance com a influenciadora Virgínia Fonseca. Os dois foram vistos juntos em um iate na Espanha e, em seguida, ela visitou o estádio do Real Madrid, o que bastou para alimentar as especulações.
O problema não está nos comentários que alimentam a curiosidade sobre o suposto relacionamento. O problema está no nível de ataques que Vinícius Jr. vem recebendo: falas repletas de preconceito, que tocam diretamente na sua aparência e cor de pele. Em diversas postagens, o que deveria ser apenas fofoca de celebridades se tornou espaço para reproduzir frases racistas — comentários tão graves que, em muitos casos, seriam passíveis de ação penal.
Curiosamente, quase ninguém critica Virgínia Fonseca pelo que de fato já foi polêmico em sua trajetória, como a associação a jogos de azar. Os ataques não se concentram no caráter ou nas escolhas pessoais dela, mas sim na estética do jogador. É a imagem de Vinícius Jr. — seu corpo, seu rosto, seus traços — que está em julgamento público.
E aqui está o ponto central: essa crítica não é neutra, ela é racializada. Talvez se fosse um jogador branco envolvido nesse rumor, o debate seria outro, ou talvez nem existisse. A verdade é que a estética que ainda dita o que é belo e aceitável no Brasil é uma estética de base europeia, e tudo aquilo que foge desse padrão — especialmente quando envolve homens e mulheres negros — passa a ser alvo de ridicularização.
Os ataques contra Vinícius Jr. não surgem no vácuo. Eles são fruto de um país que ainda reluta em reconhecer que o racismo se manifesta também na forma como julgamos beleza, sucesso e relacionamentos. Quando a opinião de milhares de pessoas gira em torno de “ele não combina com ela”, o que está em jogo não é a compatibilidade de personalidades, mas sim a insistência em perpetuar a ideia de que homens negros não são dignos de ocupar espaços ao lado de mulheres brancas consideradas símbolos de beleza midiática.
Vinícius Jr. já provou dentro de campo sua genialidade. Fora dele, porém, o que se vê é um atleta que, mesmo sendo um dos principais jogadores do mundo, continua sendo colocado à prova por um padrão estético excludente, herdado do racismo estrutural brasileiro.
A grande questão é: até quando? Até quando um jogador negro precisará driblar não apenas defensores em campo, mas também preconceitos travestidos de “opiniões” nas arquibancadas digitais?