Opinião
Após 26 dias de silêncio, o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, finalmente se pronunciou sobre o caso de Danielle e Davi Elô. No entanto, em vez de demonstrar empatia ou assumir qualquer responsabilidade pela negligência denunciada, o gestor tratou o assunto com arrogância e frieza, insinuando que a morte de Danielle foi consequência de problemas de saúde preexistentes.
A fala do prefeito em nada contribuiu para esclarecer os erros cometidos no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), onde Danielle foi internada. Pelo contrário, ele desviou o foco da evidente falha médica e atacou os vereadores que cobraram respostas, acusando-os de "partidarização" do caso. A postura de Bruno não só agravou a dor da família, como demonstrou sua completa falta de sensibilidade diante da tragédia.
O marido de Danielle, Jorge Elô, não deixou as palavras do prefeito passarem impunes. Em um longo desabafo nas redes sociais, ele desmentiu as insinuações do gestor e expôs, com riqueza de detalhes, a sequência de negligências que levaram à morte da esposa e do filho. Desde a omissão dos profissionais de saúde até a falta de ação diante dos sinais claros de complicações, Jorge relatou como sua família foi abandonada em um momento crítico.
A postura de Bruno Cunha Lima evidencia uma grave falha de sua assessoria, que claramente não o preparou para lidar com um caso de tamanha repercussão. Um gestor bem assessorado jamais se pronunciaria sem pleno conhecimento dos fatos, muito menos adotaria um discurso que revitimiza a família em um momento de luto.
Além da falta de informação, a arrogância do prefeito salta aos olhos. Em vez de acolher a dor da família e demonstrar compromisso com a apuração dos erros, ele optou por atacar aqueles que exigem justiça. Sua postura não só isola ainda mais sua gestão, como reforça a indignação popular que cresce a cada dia.
Diante da repercussão negativa, resta saber se Bruno Cunha Lima manterá sua defesa intransigente do sistema de saúde municipal ou se, enfim, reconhecerá a gravidade da negligência que custou duas vidas. Enquanto isso, a luta por justiça por Danielle e Davi Elô continua.
Desabafo de Jorge Elô nas redes sociais evidencia a continuidade da dor da família e fala triste do prefeito
Em um longo texto publicado em seu Instagram, Jorge Elô expos os fatos acontecidos durante toda a gestação e o cuidado que a família tinha para a realização do seu sonho, deixando claro que Bruno Cunha Lima não se preparou para sua "Coletiva de Imprensa", com ar de pronunciamento unilateral. Confira o desabafo:
Se o senhor tivesse prestado atenção ao caso desde o início, veria que, em nenhum momento, escolhemos politizar o crime que sofremos. Sempre fomos enfáticos ao afirmar que o fato de o médico do pré-natal dela, particular, estar de plantão naquela noite horrível nos deu uma falsa sensação de segurança. Ele sabia de tudo, acompanhou-nos desde o início e sabe que nunca deixamos de fazer um exame solicitado, seguir uma recomendação ou negligenciamos a
gestação em momento algum.Quando houve o trombo aos seis meses de gestação, ele recomendou a medicação anticoagulante, e ele tem absoluta certeza de que essa medicação não deixou de ser aplicada nenhum dia sequer - mesmo com os braços dela roxos e doloridos, chorando pela dor que a medicação causa. Tenho em casa TODAS as seringas aplicadas, que ela decidiu guardar para recordar o quanto foi forte para tornar nosso sonho realidade.
O senhor saberia que nos encontramos com ele na terça-feira, na consulta particular, quando verificamos que estava tudo bem com o bebê e a mãe. Seguimos rigorosamente suas orientações para dar entrada no ISEA, o que ocorreu na quinta-feira, dia 27.Veria também que ele assumiu o plantão às 18h do dia 28, o que nos deu a certeza absoluta de que estaríamos seguros.
Pergunte a ele como ela chorou ao vê-lo, o quanto agradeceu a Deus e disse que confiava estar segura. Pergunte também por que, sabendo de todo o caso, ele preferiu modificar a medicação para a intravenosa ao invés de submetê-la a uma cesárea. Pergunte por que ele permitiu que a medicação fosse aplicada sem o BIC (Bomba de Infusão Controlada). Ele nos conhecia, conhecia nosso sonho, sabia o quanto confiávamos nele e seguimos todas as suas orientações durante todo esse tempo!Se o senhor quer investigar alguma questão genética, então não nos cause ainda mais sofrimento. Sente-se com esse médico e pergunte a ele por que nunca solicitou tal exame. Verá que, durante toda a gestação, ela esteve saudável, com o controle absoluto da medicação, e que tanto ele quanto os exames sempre asseguraram isso.
Aproveite e pergunte como ele, conhecendo todo o quadro, todo o esforço e todo o sonho, não foi verificar como ela estava antes de abandonar seu turno. Ele ouviu o sofrimento dela durante três horas seguidas — de gritos e dor — sem um segundo de paz!Pergunte também à profissional por que ela trocou o acesso da medicação e aumentou sua dosagem de forma absurda, sem seguir a indicação médica. Pergunte por que, quando fui avisar que ela estava vomitando, tremendo e com dores abdominais sem contrações, ela simplesmente me disse que era normal.
Diga à outra profissional, que viu que a cabeça do bebê havia coroado, por que, ao retornar pela segunda vez e perceber que o bebê havia
"subido", ao invés de dizer à mãe que isso ocorreu porque ela não fez esforço suficiente, ela não foi escutar os batimentos cardíacos do bebê e medir a pressão da mãe.Aproveite e pergunte por que, quando retornaram pela terceira vez - quase 50 minutos depois da primeira visita -, também não verificaram os sinais vitais do bebê e da mãe, mas, em vez disso, me fizeram segurar um pano para que ela fizesse ainda mais força, até que desmaiou e eles perceberam a gravidade da situação.
Pergunte ao médico da UTI que a recebeu sobre a quantidade de sangue que já havia na hemorragia e há quanto tempo ela precisaria estar sendo negligenciada para chegar a esse nível. Pergunte também ao outro médico que a operou se ele já tinha visto um útero se romper da forma como o dela rompeu e se esse tipo de rompimento pode ser causado pelo excesso de medicação para indução do parto - porque eu ouvi dele que SIM, e depois também pesquisei e descobri que SIM.
Pergunte também aos profissionais quecuidaram dela na UTI, que estavam todos revoltados, incluindo um que chorou ao me dizer que sabia o absurdo que havia sido feito.
Pergunte àqueles que, da UTI, lutaram para restabelecer a saúde de Dani após um crime tão trágico!Pergunte a si mesmo como pode ser tão cruel a ponto de, no dia do velório e do enterro de Dani, diante de tanta dor da família, fazer um depoimento tão absurdo! Durante esses 26 dias, o senhor não se manifestou e, quando finalmente abriu a boca, fez num dia de tanta dir oara a gente, com uma tese absurda, que se ainda fosse verdade, só reforçaria a negligência
Sofrida.
Se o senhor acha que há alguma questão genética a ser investigada, sente-se com o ginecologista dela e pergunte por que ele não investigou isso durante todos os meses de acompanhamento. Ele era pago — e bem pago
— pela consulta. Tinha a obrigação de identificar qualquer problema. Mas sabemos que ele não o fez porque todos os exames mostram que Danielle e Davi Elô eram saudáveis!Foram DIVERSOS de sinais de alerta de que algo estava errado. A equipe negligenciou. Não agiu com a agilidade necessária, como tivemos que ouvir em coletiva de imprensa da secretaria de saúde.
Pergunte-se: como um sonho tão bem cuidado, tão bem zelado, pôde ser destruído por negligência, por violência, por tratarem uma vida como se fosse apenas mais uma, descartável!Se há humanidade, peço que não toque em nossas dores. A dor que estamos sentindo já é imensa. Tenha respeito por tudo o que ocorreu.
E, se fizer as perguntas que lhe propus, verá que jamais, em hipótese alguma, iríamos relatar tais fatos, passar por tanto sofrimento e dor, se não tivéssemos absoluta certeza do que vivemos e sofremos!
Cada golpe que estamos sofrendo só nos torna mais fortes. Então, pare de nos ferir e cumpra seu papel de mostrar os verdadeiros culpados à sociedade, ao invés de querer culpar a vítima no dia de seu velório e enterro.
Campina Grande inteira tomou coragem para lutar essa luta. Agora, mostre de que lado está: do lado da negligência ou do lado dos que querem justiça por Danielle e Davi Elô.Jorge Elô